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“O nome da crise é Dilma”

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Assegurando ecoar o sentimento do Brasil, Laércio Oliveira antecipa voto pelo impeachment

Por Joedson Telles

O deputado federal Laércio Oliveira (SD) até cogitou votar contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Andou indeciso. Pensou. Conversou com pessoas de todas as classes sociais. Colocou o Brasil em primeiro lugar. E, por fim, impulsionado pela maioria dos brasileiros decidiu colaborar com o seu voto na Câmara Federal para que Dilma deixe a Presidência da República. “O impeachment é a renovação. Eu vou votar a favor do impeachment. Acho que o impeachment vai ser aprovado. Eu percebo a movimentação dos meus pares na Câmara dos Deputados. Não é mais nem uma questão política: eu percebo que é uma questão pessoal de cada um. Não é mais porque o partido do deputado quer que ele vote a favor do impeachment. Porque ele é oposição e quer derrubar a presidente. É porque em todos os cantos que os deputados vão, com todo mundo que se conversa a questão é exatamente essa. Todos os indicadores desmoronando e a solução para isso é o processo de impeachment”, assegura Laércio Oliveira, resumindo o sentimento que sente no Brasil do Oiapoque ao Chuí: “o nome da crise é Dilma”. A entrevista:

O deputado Laércio Oliveira já decidiu se vota a favor ou contra o impeachment da presidente da República, Dilma República?

O impeachment significa votar pelo Brasil. Significa cuidar do país num momento de tanta incerteza e de um horizonte totalmente incerto. Um horizonte muito nebuloso sem a gente saber onde vamos chegar. Acabou a confiança no governo que aí está. Eu lamento profundamente, mas essa é a realidade. Até 15 dias atrás, eu tinha dúvida se eu votaria pelo impeachment ou não. Mas, diante de tantas conversas que tive com os mais diversos segmentos, seja no econômico, até com o cidadão comum nas caminhadas por todos os cantos do estado, percebi que as pessoas não confiam mais no governo. E triste daquele governo que as pessoas perdem a esperança. A sociedade não quer mais esse governo. Quer experimentar um momento diferente, porque está percebendo fugir das suas mãos o poder de compra, o emprego. Está vendo dentro de suas casas os custos aumentarem a cada dia e o desemprego bater à porta. O impeachment é a renovação. Eu vou votar a favor do impeachment. Acho que o impeachment vai ser aprovado. Eu percebo a movimentação dos meus pares na Câmara dos Deputados. Não é mais nem uma questão política: eu percebo que é uma questão pessoal de cada um. Não é mais porque o partido do deputado quer que ele vote a favor do impeachment. Porque ele é oposição e quer derrubar a presidente. É porque em todos os cantos que os deputados vão, com todo mundo que se conversa a questão é exatamente essa. Todos os indicadores desmoronando e a solução para isso é o processo de impeachment. Existiam alguns sinais, assim que foi aceito pela Câmara o processo, que os indicadores na bolsa de valores tiveram uma reação positiva. Acho que à medida que o processo começar a andar algumas coisas voltarão para o eixo central. Não existe mais nenhuma possibilidade de investimento no país porque existe uma insegurança total sobre o amanhã. A solução é fechar um orçamento de R$ 119 bilhões de prejuízo. É um número que assusta a todos nós. É tentar fechar o orçamento com superávit zero, nunca vi isso. Ou é negativo ou positivo. É dizer à sociedade que caminhamos o ano inteiro e não saímos do lugar.

Os investidores não têm mais confiança no governo Dilma?

De jeito algum. Os investimentos sumiram e sem eles não se supera a crise. Se o dinheiro não começar a circular não se gera imposto, emprego, não tem nenhum caminho. Nada que se possa fazer. A  certeza que existe hoje é que os investidores não acreditam mais no país, neste governo. Isso significa a falta total de recursos. Dinheiro que chega e faz a economia funcionar, que faz a indústria produzir mais, que aquece o comércio. E esse dinheiro não existe se a arrecadação cai, se os investimentos somem, como é que faz para o país funcionar? Triste de um cidadão que perdeu a esperança. É este o sentimento em todas as classes sociais. Eu tive o privilégio de ouvir e conviver com todas as classes da pirâmide social. Se vai fazer uma visita a uma cidadezinha do interior do estado a uma família simples, aquele que tem o bolsa família, está descrente. Não se sente mais protegido pelo governo. Se vai para a classe média, percebe-se uma incerteza muito grande. Os ajustes que as pessoas estão fazendo no orçamento familiar porque um mês a conta de energia chega de uma forma, no outro mês já é maior. É o supermercado que não consegue comprar. Quando chega-se na classe alta a mesma coisa. Insegurança total. As pessoas indo embora do país. Quem é empresário começa a fazer o corte na sua própria empresa. Já são mais de 100 mil lojas comerciais fechadas no país. Precisa mudar.

O sentimento dos investidores e de todas as classes é que o nome da crise é Dilma Rousseff? E isso que o senhor quer dizer?

O nome da crise é Dilma, infelizmente. Por toda uma estrutura que existe em torno dela, por todos os projetos que foram feitos de uma forma errada, a persistência em manter o mesmo modelo de governança que veio do governo Lula, que não condiz mais com a realidade que a gente vive já há uns anos atrás. O governo, infelizmente, não enxergou isso. Preferiu insistir no que estava errado e o resultado é esse. Ninguém quer mais Dilma. Qualquer coisa que se coloque nas redes sociais com o nome Dilma as pessoas que resistem a ela os números são estúpidos. Não é mais a pessoa que não gosta dela. É uma convulsão nacional.

Caso Dilma deixe o governo, Temer assume. Isso resolve?

A irmandade PT/PMDB está em crise. Os últimos acontecimentos fizeram a gente enxergar claramente que não existe mais aliança com o PMDB. Temer pode não ser o modelo ideal, mas a incerteza vai sumir porque, certamente, virá um governo que será feito com os partidos de oposição. Para o investidor, é uma possibilidade grande de melhora do ambiente pelas próprias palavras que o Temer tem dito nas conversas com empresários. Ele já esteve com os industriais, com os comerciantes conversando em São Paulo, tem conversado com o mercado internacional, financeiro. Construindo um caminho novo, semeando a credibilidade. E tem obtido êxito. Todo mundo que tem ouvido essas palestras dele tem saído convencido de que pode não ser aquilo que o povo quis, mas pelo menos renasce a esperança que pode ser que dê certo. Eu tenho a impressão que, a partir do momento que o impeachment chegar e o Temer assumir, a gente vai começar a viver um novo tempo – até que o povo tenha a oportunidade mais uma vez de ir às ruas dentro de um ambiente de total confiança, sem enganação, sem subterfúgios, sem números maquiados, para escolher outro presidente. Mas essa transição até 2018, o país não pode ficar sobre o governo da presidente Dilma, porque isso vai afundar ainda mais, vai ser uma recessão intensa e não sei se o Brasil suporta.

Esse processo todo duraria quanto tempo, sendo otimista?

Eu acho que não passa de seis meses. Em junho do próximo ano, teremos um cenário novo. Ou da continuidade num processo de recessão ou de um novo governo que irá assumir. Mais do que isso é um caos, porque até lá vamos continuar com números negativos. A arrecadação vai continuar em decadência, e isso vai trazendo consequências para saúde e educação e as classes menos favorecidas são as mais atingidas que efeito é imediato.

Como o senhor analisa o argumento que aponta para o impeachment ser um golpe?

Eu acho que é jogo político. Mas enxergo alguns aliados da presidente, colegas de esquerda, já convencidos que não dá mais para segurar. O resultado da votação das duas chapas (na Câmara Federal) deixou todos estarrecidos. Ali foi a certeza de que o impeachment está muito próximo. Se a comissão trazer o relatório para o plenário com a necessidade de 342 votos para que ela seja afastada vai ter, porque na votação de uma chapa já teve 299 a favor. A diferença é muito pouca para ter o que precisa eu já ouvi de partidos aliados da presidente que não tem jeito, que vai ter que começar tudo de novo. Muita gente alega que é porque foi voto fechado, que se colocar aberto o cenário muda. Eu tenho para mim que aumenta, porque é a sociedade que quer um comportamento diferente do seu representado. A sociedade está cobrando dia após dia a posição de cada um. Se eu fazer um teste, se colocar no meu facebook que sou a favor de Dilma, que vou votar com ela, eu recebo um turbilhão de críticas das pessoas que me acompanham na rede social. O impeachment é questão de tempo.

A incoerência entre a Dilma candidata e Dilma presidente levou a sociedade a ter esse sentimento de basta?

Esse é o principal efeito, na minha opinião. A pessoa de Dilma tem uma conduta correta. A pessoa de Dilma como presidente da República tem representado bem o país. O grande problema é que o povo teve a convicção de que foi traído por ela. Como ela tinha aquela áurea da pessoa que conduzia a coisa com zelo, tudo ela precisava saber para autorizar, de repente as pessoas se deparam com o filme a que assistiu dizendo que o Brasil estava sobre controle, que o preço do combustível era justo, que a energia elétrica era um preço justo, mas quando ela vence nas urnas, a sociedade descobre que era mentira, com aquela diferença tão pequenininha que deram a vitória a ela. Porque no resultado da eleição, o Brasil já estava dividido. A grande rejeição a ela é pela mentira. Por isso que o eleitor cobra do seu representado e o Brasil vai para as ruas por isso. É diferente da época de Collor, mas o golpe de misericórdia do impeachment é quando a população for para as ruas. O único senão que eu coloco é se a sociedade ficar alheia ao impeachment. Mas, se a sociedade for às ruas como sinaliza que irá, o impeachment é questão de muito menos de seis meses.

Quando Lula declara publicamente que Dilma usou um discurso diferente do que se assiste em seu governo para ganhar a eleição foi a chamada pá de cal?

Confessar agora é tarde demais. Não foi, de fato, uma eleição democrática, foi enganosa, e o povo não aceita mais ser enganado.  Jogou o povo contra Dilma. Não sei se por um descuido de vocabulário, intencional, achando que ele vai conseguir numa eleição futura vencer. Lula nunca mais vai vencer uma eleição no Brasil. Os grandes homens públicos do mundo viveram sua época de ouro, mas depois disso quem tentou fazer se deu mal. Eu ouvi um discurso dele achando que poderia ser candidato à Presidência da República. O povo não acredita mais. Se o povo não acredita não tem como se eleger. Triste de quem tentar enganar o povo. E eu fico muito feliz porque o povo está entendendo isso e eu acho muito bom. Essa é a política que eu acredito. A consciência do eleitor. A informação que chega mais fácil a ele. A participação nas redes sociais. É ir para os movimentos de rua espontaneamente sem precisar ninguém estar dando um lanchinho ou disponibilizar ônibus. É o cidadão de bem exercendo a liberdade democrática. Indo às ruas externar a indignação dele com o Brasil, e faz isso com o coração, com consciência política e isso é muito bom. É a política da forma que eu enxergo. É a política que eu espero um dia continuar assistindo cada vez mais.

É o momento mais difícil para quem está, hoje, na Câmara Federal?

É! Primeiro porque é a tristeza toma conta. Eu me sinto um pouco triste lá, hoje, em dia. Eu não queria que meu país vivesse esse momento, e não queria ser um dos personagens. Eu tenho meu voto. Esse voto, eu tenho que pensar muito nele porque estou votando por 85 mil pessoas por um processo de impeachment para tirar da presidência da República uma pessoa eleita pelo voto popular, enganoso ou não. É um trauma muito grande para meu país. É uma imagem muito desgastada pelo mundo todo e eu sou um desses personagens que viverei esse momento. Muita gente, infelizmente, dentro da Câmara se aproveita desse momento para que os holofotes se votem através de estrondosos discursos de moralismo, ética, transparência. Todo mundo tenta tirar desse momento a maior vantagem possível. Mas esse é um momento de muita reflexão porque de qualquer forma, queiramos ou não, tem a incerteza do dia seguinte. Será que a população estará protegida? Será o amanhã melhor? A pessoa que faz política da forma que eu faço, pensando no país, vive uma prova de fogo muito grande. Precisa pedir muito orientação a Deus em comportamento e atitude para que as coisas fluam da melhor forma possível.

Neste momento de fragilidade total da presidente, há um sangramento muito grande no Brasil? A barganha extrapola seus próprios limites antiéticos?

Eu acredito que sim. Esse submundo da política que ainda existe corrói muito a democracia e prejudica a sociedade como um todo. O poder é algo apaixonante. Se não houver equilíbrio suficiente pode se usar essa arma com proveitos próprios com vantagens das mais diversas possíveis. Infelizmente, muitos sucumbem por esse caminho. Mas, felizmente, as instituições brasileiras, hoje, eu enxergo com mais independência, inteligência. Ao que estamos assistindo do Ministério Público que vem trabalhando, da Polícia Federal, do Judiciário que vem procurando fazer seu papel. Todos tão somente no intuito de colocar o Brasil no caminho certo para que o Brasil deixe de ser conhecido no mundo como um país corrupto, onde os políticos fazem práticas ilícitas, cujas consequências são esquecidas, mas danosas, quando falta remédio, um leito no hospital, um meio de transporte melhor, um acesso mais nobre para se chegar a determinado local. Quando a gente precisa de uma infra-estrutura nas rodovias para que a produção de grãos no país alcance os portos para que sirvam para o mundo todo e que não haja tanta perda. Isso tudo foi dinheiro que faltou porque se perdeu no meio da tramitação legítima. Muitas vezes levado por essas práticas. Isso tudo precisa mudar. Esse trauma que todos nós sofremos atualmente é na esperança de dias melhores para o nosso país – e eu acho que esse tempo vai chegar.